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Brasília (não) expande a distância entre os corpos

Amigos leitores,

Eu gosto muito de poesia e acho que elas realmente combinam com o ambiente urbano. “Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome. Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores…”. A música “Esquadros”, de Adriana Calcanhotto diz muito sobre meu comportamento desde que eu era criança. Eu sempre observei tudo ao meu redor, sempre ficava imaginando o que passava pela cabeça das pessoas, pelos corações, pelas expressões faciais. Ora zangadas, ora alegres, ora reflexivas, ora angustiadas. Três vezes por semana eu atravesso o plano piloto de Brasília, de norte a sul, em busca de conquistas, tentando desbravar novos saberes a partir do amor por ensinar. E nos últimos meses acho que meu olhar foi presenteado com uma poesia curiosa e urbana.

Há algum poeta nesta cidade (e sei que ela possui muitos) que tem mexido com minha vontade de revolucionar. Eu gosto muito desta palavra. Gosto de revolução. Gosto de inquietação. Gosto de minorias. Gosto da contramão. Bem na divisa entre o sul e o norte do Eixo Rodoviário, ou Eixão, há uma frase que definitivamente resume tudo o que Brasília emana, especialmente aos seus candangos, forasteiros ou desbravadores (me encaixo no último adjetivo): “Brasília expande a distância entre os corpos”. Em novembro último completei 2 anos como candanga oficialmente, consciente de que este papel não seria fácil. Mas na prática é mais difícil. As pessoas não se abraçam, não se enfrentam, não se encaram, não se envolvem. É difícil para quem nasceu cheia de calor e com uma missão de integrar, unir, amar e fazer junto.

Este ano eu rodei quilômetros e quilômetros levando uma mensagem na qual eu acredito profundamente: nossa humanidade está no ponto em que decidimos nos envolver, nos preocupar com os outros. É o que se faz latente a cada novo encontro com os amigos do Pará ou com as amigas do Rio de Janeiro. Existe um ponto que divide essas águas. Um ponto em que você fica meses sem ver esses amigos, mas que no momento em que se olham o tempo volta no exato instante do último dia em que se viram pessoalmente. Brasília expande, afasta e parece que quanto mais conhecido, mais estranha fica essa relação. Atmosfera pesada, artificial, superficial.

Se você me perguntar qual o meu desejo para 2016 nesta cidade é que ela expanda menos, aproxime mais, seja mais calorosa, seja mais envolvente e seja mais cheia de amor. Eu acredito que não é culpa de Brasília. É incoerente sentir isso aqui. Não é de sua natureza. Brasília está no centro, foi construída pata atrair: pessoas, recursos, investimentos, investidores, obras, grandes obras… Brasília precisa ser quente, precisa ser amorosa, precisa se doar. Desejo para esta cidade que meu conhecimento atravesse não somente o norte ao sul do plano piloto, mas o norte ao sul do DF inteiro. Desejo que essas minhas inquietações se convertam em poesia e sorrisos, porque esses atraem olhares, corações e emoções. Porque…

“Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem…” (Senhas, Adriana Calcanhotto)

Uma excelente terça-feira para vocês!

Marcela Brito sou eu: secretária executiva trilíngue, esposa, mãe, consultora de carreira, empreendedora, escritora, blogueira, professora, eterna aprendiz e uma mente que não para de pensar em construir um bom legado para nós e os que vierem depois de nós.

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Marcela Brito - 2009-2021