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Como a paçoca representa a minha identidade cultural

Amig@ leitor(a),

A identidade cultural individual está formada sobre suas tradições, costumes e vivências. Minhas lindas memórias giram em torno de alguns símbolos que na infância eram sagrados em um contexto massivamente feminino. Embora tenha vivido na mesma casa com mãe e pai, a figura feminina é predominante como referência para mim.

Cresci com mãe, avó, tias e primas. E elas sempre fizeram as coisas acontecerem. A figura paterna existia, mas de modo muito coadjuvante. As mulheres da minha família, apesar de suas idiossincrasias e inconsistências, sempre foram exemplo de força e resistência aos cenários mais atribulados.

Quando o feriado de Páscoa se aproxima, minhas recordações se voltam ao quintal de minha avó e imediatamente me vem à cabeça a imagem da minha avó paterna, dona Corina, e o ritual de fazer a paçoca: torrar o amendoim ao sol, descascá-lo, socá-lo no pilão e misturar aos demais ingredientes. Era preciso ter braços fortes e, mais que isso, era preciso saber para que aquilo estava sendo feito. O pilão e o fogão a lenha eram os símbolos em torno do quais as mulheres da casa se reuniam.

Era o momento de falar de tudo e era o momento no qual as narrativas se construíam e se fixavam. Eu sempre observei o que estava por trás da paçoca. Era a tradição, era a cultura, era a reunião. Era o ritual das mulheres da minha família. A paçoca era servida na sexta-feira santa. Se você me perguntar o porquê eu não sei. Mas era algo certo no feriado da Paixão.

A paçoca feita artesanalmente pela minha avó e herdada naturalmente pelas minhas tias traz de volta o sabor da minha infância e me faz compreender o porquê de eu gostar de cultura, as razões que me levam a perceber os hábitos das pessoas e valorizar suas narrativas e experiências.

A cultura dá à história sabor, cor, consistência, liga. E nesse feriado a minha identidade se faz sobre esta cultura do pilão, da força feminina, de compreender que famílias lideradas por mulheres (realidade de nosso país) é o que sustenta moralmente a formação de suas gerações sucessoras.

Cá estou, com saudade de ver minha avó ao pilão e, então, me lembro de que isso não será mais possível, porque sua saúde já não lhe permite mais. Entretanto, a tradição segue viva nos braços fortes das minhas tias, que mantém a cultura por meio do aprendizado, da transferência do conhecimento e da manutenção do ritual.

A cultura está viva em nós e em nossas memórias.

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Marcela Brito sou eu: muitas mulheres, muitas facetas, uma só identidade. Alguém com missão, paixão e coragem.

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