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Quem vai morrer no Brasil por causa do Corona Vírus?

Sentada em frente ao computador, isolada com minha filha em casa, com suas aulas suspensas por um decreto do governador do Distrito Federal, compreendo minha posição na estrutura social brasileira. Não sou rica, ainda preciso trabalhar e vivo como boa parte da classe média brasileira. No entanto, tenho plano de saúde, tenho a possibilidade de negociar com meus empregadores para operar em regime de teletrabalho temporário, quando em um grupo de whatsapp com amigos, percebo que lamentavelmente esta não tem sido a realidade geral.

Boa parte dos meus amigos ainda precisa ir ao escritório esses dias e, parte deles, utiliza transporte público, que em Brasília (bem como em toda grande cidade brasileira) é sempre lotado. Temos em casa uma diarista 2 vezes por semana. Ontem a dispensamos até essa onda de terror passar, mas os relatos de pessoas próximas e o que observamos no bairro onde moramos nos indicam outra realidade. Empregados domésticos, porteiros, motoristas e vários profissionais seguem trabalhando como se absolutamente nada estivesse acontecendo.

Se na Itália o Corona vírus ceifou em maior escala as pessoas idosas, no Brasil a doença será implacável contra os mais pobres.

Aqueles que não tem o direito de se isolar, aqueles que ao se isolarem em suas residências 2mx3m nas favelas das grandes cidades com mais 4 ou 5 pessoas estão ainda mais vulneráveis à doença, aqueles que não serão dispensados de seus empregos porque seus empregadores não admitem fazer trabalhos domésticos temporariamente e aqueles que ao menor sintoma da pandemia, não terão, sequer, acesso ao teste.

Aos defensores da privatização do SUS, é hora de refletir, já que este ainda é o modelo mais adequado a um país como nosso e, ainda assim, ineficiente. Não suportaremos os doentes que progressivamente crescem no país, talvez a dolorosa hora de decidir quem atender já tenha chegado sem que a mídia esteja divulgando. Influenciadores digitais, empresários e pessoas pertencentes à classe média terão acesso a testes e saberão se estão ou não doentes, já que podem pagar pelo teste. Este mesmo direito será negado aos menos favorecidos, uma vez que em declaração realizada ontem em Brasília, o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta declarou que há falta de testes no país.

Toda esta situação denuncia o estado de caos que vivemos no país, que tem se agravado sistematicamente com políticas excludentes e cruéis como congelamento de recursos financeiros da União destinados à Saúde e à Educação. A ciência no Brasil, duramente atacada e perseguida nestes últimos dois anos, agora é nosso fio de esperança, uma vez que é dos cientistas que dependemos para lidar com um inimigo invisível como o Covid-19.

Não sei como sairemos desta situação coletiva e mundial, todavia uma lição vai ficar: precisamos como sociedade reivindicar e cobrar de autoridades em todas as esferas o apoio e o investimento necessários em saúde, educação, ciência e tecnologia. Em um mundo que caminha para um futuro baseado em inteligência artificial, as pessoas que atuam nessas áreas devem estar sempre à frente de todas as descobertas. Isso é responsabilidade do Estado Brasileiro. E quem representa o Brasil é responsabilidade nossa como nação.

Marcela Brito é cofundadora da Iventys Educação Corporativa, Treinadora de Mentores licenciada da Global Mentoring Group, mãe da Elisa, esposa do Victor, filha, amiga e uma mulher de fé

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Marcela Brito - 2009-2021