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O milagre da retidão

Amigos leitores,

Esta semana voltei ao trabalho e, embora tenha sido um momento agradável (sim, porque agora vejo propósito e sinto gratidão por estar onde eu estou), eu adoeci novamente. Estranhamente este tem sido um ano desafiador. Sei que é reflexo de muita intempestividade, má alimentação recorrente e dor por outras questões secundárias, mas que para mim são igualmente importantes, especialmente quando trata de relacionamento interpessoal.

Cá estou, nesta sexta-feira, acabei de assistir Susan Cain falando sobre introversão e a importância que nãos e dá mais em nossa sociedade atual aos momentos de individualidade e retidão. Ela é escritora e seu principal livro é “O poder dos quietos” e é muito rico o dicurso dela sobre dados de pesquisas que apontam que pessoas introvertidas manifestam melhor desempenho. Ela, ao final de sua palestra faz três apelos: 1º – parem de trabalhar em grupos constantemente!; 2º – precisamos estimular não só ambientes interativos como ambientes de privacidade, liberdade e autonomia, tanto no trabalho quanto na escola; e 3º – precisamos ter consciência do que carregamos em nossa bagagem de vida e seja o que for, eventualmente deve ser compartilhado com outras pessoas, porém com cuidado para que não abandonemos as nossas bagagens e aderirmos a bagagem de outros.

Nesta palestra de Susan, eu refleti sobre uma boa parte da minha história, o quanto funciono trabalhando em equipe, no entanto o quanto me faz bem trabalhar sozinha. Eu estou em processo de pesquisa e produção do meu segundo livro, além de outros dois projetos encantadores em grupos para 2019, e este tempo comigo mesma, estudando, lendo, observando as pessoas é tão importante, tão único, tão fundamental e tão urgente que eu tomei a decisão de me desligar de algumas iniciativas das quais eu participava.

Por uma razão muito simples, que divido com vocês agora: quando passamos muito tempo (talvez a maior parte do nosso tempo) trabalhando em grupo, corremos o risco de deixarmos nossa base, aquilo que verdadeiramente define quem somos e passamos a viver as experiências e até mesmo a jornada de outras pessoas. Eu via claramente acontecendo isso em alguns grupos dos quais eu participava. A personalidade de um prevalecia e, com o tempo, parte do grupo, absorvia o comportamento, a linha de pensamento e as atitudes e isso me preocupava. Infelizmente, eu estava me sentindo já um peixe fora d’água e sabendo quem sou, decidi partir. Eu sou diferente, eu gosto de ser quem sou e viver conforme o que aprendi e seguir a minha formação. Não entendam mal, não quero dizer que sou alguém incapaz de melhorar e mudar de opinião, apenas digo que prezo mais minha individualidade e minha história e sempre que algo ameaça isso, eu tomo uma atitude.

Sempre foi engraçado, ao passo que conseguia me inserir aos grupos pelos quais passei ao longo da faculdade e da vida, eu também conseguia ter o entendimento de até onde eu deveria ir, até onde algo não me prejudicaria. Quando cursei Comunicação Social – Jornalismo muitas das nossas atividades eram em grupo, a construção era coletiva, mas minhas aulas inesquecíveis eram as aulas de Teorias da Comunicação (módulo de Comunicação, Cultura e Sociedade) e as oficinas de redação com o Prof. Manuel Dutra, pois de forma respeitosa ele captava as virtudes de cada um de nós e exercitava algo em grupo que, magicamente, enaltecia a aptidão individual: leitura em grupo. Até hoje é o meu melhor exemplo de como preservar a individualidade estando em grupo.

Muitas vezes tudo o que precisamos é estar em nossa própria companhia. E eu tenho aprendido muito ao longo do tempo. Em mim, sempre prevaleceu a extroversão, todavia meu marido é a pessoa mais inteligente que eu conheço e com ele eu passo a perceber como é bom ficar quieto às vezes, estudando, retido, introspectivo. É uma forma de desenvolver o que há de melhor. Se eu paro para me escutar, para me sentir, eu consigo seguir adiante sem grandes dores e feridas. Nesses dias, estou pensando muito em como me resguardar, me poupar de exposição (que honestamente se mostra cada vez mais desnecessária e prejudicial) para que outras ações possam acontecer e para que a saúde seja resgatada, volte, para que eu esteja íntegra sendo quem eu sou.

Ao passar da fronteira dos 30 anos, eu prezo muito meu espaço, meu lar, minha casa, minha família, fazer algo nutritivo para me alimentar ou preparar um chá enquanto começo a assistir a um novo filme. Adoro chá! Minha avó paterna, na infância, costumava preparar chá de hortelã antes de minhas primas e eu irmos para a cama. Era revigorante, era o momento no qual nos reuníamos em torno do fogão a lenha dela, onde as mulheres daquela casa conversavam, onde eu apreciava e era estimulada às minhas primeiras histórias. Minha memória remoneta aos meus quatro anos. Eu sou capaz de lembrar fatos, cenas e frases ditas por minha mãe, tias ou avós quando eu tinha esta idade. Minha mãe um dia disse que não acreditava e eu exemplifiquei. Ela ficou muito surpresa!

As boas histórias são construídas em grupos, mas a capacidade de conviver consigo mesmo é o dínamo do desenvolvimento pessoal. Quem não é capaz de amar estar sozinho de vez em quando (e o interessante é que isso esteja em nossa rotina semanal), não é capaz de conviver com o grupo, não constrói memórias tampouco escreve boas histórias. Talvez vocês me vejam com menos presença, mas estejam certos de que a minha presença terá mais qualidade, porque eu estou priorizando cuidar mais dos meus pensamentos, emoções e, naturalmente, as ações virão melhores.

Um beijo carinhoso e ótimo fim de semana para vocês!

214/365

Marcela Brito sou eu: muitas mulheres, muitas facetas, uma só identidade. Alguém com missão, paixão e coragem.

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Comentários (3)

  1. Isso mesmo amiga. No auge dos meus 5.1 penso da mesma forma. A cada ano mais seleta em todos os sentidos e dando mais valor a pequenas coisas. Bjs

  2. Olá Marcela,

    Sabe, ainda sou uma pessoa bastante introvertida, seletiva em relação as minhas amizades, gosto de estar sozinha, me divirto sozinha, vou ao cinema sozinha, não tenho redes sociais entre outras coisas, acredita?
    Quando conto isso a certas pessoas elas não acreditam, até me chamam de antissocial, eu nunca achei um problema em ser assim, gosto de ser assim, pois sempre conquistei tudo que almejei, sendo assim. Tudo isso não significa que não sei ou que não gosto de trabalhar em grupo, mas assim como você, prezo minha individualidade.E não há nenhum mal nisso, não é mesmo?. Quando tentei ser “diferente” me enquadrando nos moldes alheios, o que não me tornaria diferente, mas igual a maioria, senti que não era eu, em minha essência.

    Continue assim, prezando sua individualidade, história, e inspirando pessoas.
    Parabéns pelo texto, lindo!

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Marcela Brito - 2009-2021